A Mureta de Márcio França
Scott Adams, autor do cartoon Dilbert deixou perplexos, em 2016, na eleição americana, os analistas políticos tradicionais. Baseou toda sua análise em observações sagazes das estratégias de comunicação de Donald Trump. Notou que no discurso do então candidato, havia uma série de ferramentas e figuras de linguagem extremamente persuasivas, com enorme potencial para a determinação de uma narrativa - no caso, a eleição americana. Cravou o resultado, contra tudo e contra todos.
Um dos exemplos dessas técnicas de persuasão era o famigerado muro. Possível ou não, justo ou não, ele representava um metáfora absoluta na narrativa - o que poderiam discutir os demais candidatos? Leis? Políticas de fronteira? O que essas medidas realistas, mas técnicas, de difícil explanação ao povo poderiam representar ante um muro, popularmente reconhecido como limite, fronteira, defendido com absoluta segurança pelo orador?
Se a alegoria funciona, argumentações sólidas e debates construtivos são atropelados pela narrativa mais simples, para bem e para o mal.
Em algum modo, essas análises influenciaram a eleição brasileira. Alguns preceitos observados nas eleições americanas são utilizados amplamente, sobretudo pela nova direita conservadora, que finalmente se estabeleceu no Brasil. Jair Bolsonaro parece emular com as armas seu muro.
No âmbito estadual, me chamou a atenção a narrativa adotada por Márcio França. Até então pouco expressivo vice-governador, projetou a candidatura desde seu acordo - um erro grosseiro de Alckmin, a propósito - ocorrido no pleito vencedor em 2010. Mudou sua aparência, desfez a barba, perdeu peso. Na campanha, traz um bom slogan - o novo governador de São Paulo.
Na reta final, traz uma figura mais assertiva, demonstrando muito mais energia que seu concorrente Skaf, que trazia uma mensagem Doria 2.0, com menos gás e sem o mesmo carisma. Ataca Dória de maneira eficaz - o pinta de traíra e oportunista - valores amplamente compreensíveis e negativos, que parecem encontrar consonância com boa parcela do povo - especialmente na capital, onde pegou mal, na minha opinião, nem o abandono da prefeitura, mas a tentativa, estabanada e frustrada, de projeção ao Planalto.
França já compreendeu que precisará esconder seu passado petista, seu partido fundador e participante do foro de São Paulo - suas âncoras. Um apoio ainda que velado a Bolsonaro é plausível. Analisar a disputa do governo de SP como mais um PT vs Bolsonaro é superficial.
Se a estratégia for bem sucedida, pode levá-lo a vitória. Não é um muro, mas uma mureta. Caberá ao candidato seguir sua construção ou vê-la ultrapassada pelo neobolsonarista João Dória.
Scott Adams, autor do cartoon Dilbert deixou perplexos, em 2016, na eleição americana, os analistas políticos tradicionais. Baseou toda sua análise em observações sagazes das estratégias de comunicação de Donald Trump. Notou que no discurso do então candidato, havia uma série de ferramentas e figuras de linguagem extremamente persuasivas, com enorme potencial para a determinação de uma narrativa - no caso, a eleição americana. Cravou o resultado, contra tudo e contra todos.
Um dos exemplos dessas técnicas de persuasão era o famigerado muro. Possível ou não, justo ou não, ele representava um metáfora absoluta na narrativa - o que poderiam discutir os demais candidatos? Leis? Políticas de fronteira? O que essas medidas realistas, mas técnicas, de difícil explanação ao povo poderiam representar ante um muro, popularmente reconhecido como limite, fronteira, defendido com absoluta segurança pelo orador?
Se a alegoria funciona, argumentações sólidas e debates construtivos são atropelados pela narrativa mais simples, para bem e para o mal.
Em algum modo, essas análises influenciaram a eleição brasileira. Alguns preceitos observados nas eleições americanas são utilizados amplamente, sobretudo pela nova direita conservadora, que finalmente se estabeleceu no Brasil. Jair Bolsonaro parece emular com as armas seu muro.
No âmbito estadual, me chamou a atenção a narrativa adotada por Márcio França. Até então pouco expressivo vice-governador, projetou a candidatura desde seu acordo - um erro grosseiro de Alckmin, a propósito - ocorrido no pleito vencedor em 2010. Mudou sua aparência, desfez a barba, perdeu peso. Na campanha, traz um bom slogan - o novo governador de São Paulo.
Na reta final, traz uma figura mais assertiva, demonstrando muito mais energia que seu concorrente Skaf, que trazia uma mensagem Doria 2.0, com menos gás e sem o mesmo carisma. Ataca Dória de maneira eficaz - o pinta de traíra e oportunista - valores amplamente compreensíveis e negativos, que parecem encontrar consonância com boa parcela do povo - especialmente na capital, onde pegou mal, na minha opinião, nem o abandono da prefeitura, mas a tentativa, estabanada e frustrada, de projeção ao Planalto.
França já compreendeu que precisará esconder seu passado petista, seu partido fundador e participante do foro de São Paulo - suas âncoras. Um apoio ainda que velado a Bolsonaro é plausível. Analisar a disputa do governo de SP como mais um PT vs Bolsonaro é superficial.
Se a estratégia for bem sucedida, pode levá-lo a vitória. Não é um muro, mas uma mureta. Caberá ao candidato seguir sua construção ou vê-la ultrapassada pelo neobolsonarista João Dória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário