terça-feira, 30 de outubro de 2018

Amadurecimento ideológico

A maioria das análises - sobretudo da grande mídia - da composição política brasileira ainda parece calcada em conceitos da década passada. Se os períodos de polarização PT x PSDB permitiam a conversa fácil de esquerda contra direita, muito embora direita não houvesse, hoje, tudo muda.

Pintar Bolsonaro como extrema direita e Haddad como extrema esquerda é superficial, que embora possa até vender uma história, não é suficiente para explicar tudo o que acontece e, principalmente o que virá. Ambos agregaram votos de diferentes interesses, que por um motivo ou outro se dobraram as alternativas disponíveis.

No momento inicial deste novo momento, nascido sim em resposta ao projeto criminoso de poder petista, juntou pessoas de múltiplos espectros, sejam intuitivos ou construídos, mais posicionados a um campo direitista, entretanto com muitas divergências entre si. Da mesma forma, o campo esquerdista, majoritariamente unido aos governos de 2002-2016 também abre suas contradições.

Se a agenda partidária anterior era intervencionista e fisiológica, chamada até de 50 tons de vermelho, agora pintam outras cores no quadro, mas nem tudo é azul ou verde.

A nova composição do congresso trará as novas posições ungidas da população. Agendas conservadoras, liberais, libertárias, sociais democratas deverão ser explicadas a parte. Votações de suposto bloco aliado ao planalto terão suas divergências. Se por anos criticou-se a ausência de agendas ideológicas no Brasil, se há um caminho natural para que elas surjam, será a partir da fratura que estas eleições representaram no esquema de auto-preservação do poder que foi instalado no Brasil.

É muito provável que bancadas supra-partidárias temáticas - segurança pública, evangélica, rural - convirjam interesses, a despeito da orientação partidária. O mesmo vale para a identidade ideológica: Haverá, talvez pela primeira vez em décadas, indivíduos que tem posicionamento claro, que independem da sigla a qual estão vinculados. Desses conjuntos poderão surgir, no longo prazo, novos partidos, aí sim com pautas mais definidas.

Nem toda direita é coxinha, na a é esquerda mortadela. O que houve até hoje perderá força e o lugar comum cairá por terra. No mundo, as vacas sagradas na análise política caminham para o brejo. O que se entendia por força partidária, governabilidade e o opiniões superficiais ideológicas tornaram-se conversa fiada de imprensa, que erraram muito e caem no descrédito por serem incapazes mesmo de entender a própria audiência.

Se a divisão fácil da direita, esquerda e centro serviu até agora, o futuro parece exigir mais conhecimentos e divisões. Haverá convergências e coalizões, mas os correntes políticas serão marcantes, em claro reflexo a maturidade política da própria população.

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