segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Londrina e a pré-figuração da governabilidade

Em 2012, Londrina elegeu para prefeito Alexandre Kireeff, então PSD, em campanha sem coligações, com uma mensagem claramente anti-establishment e contrária aos modos da elite política tradicional. Não havia um forte componente ideológico, como observado agora em 2018, até por que a conformação político ideológica da cidade, identificada ao centro era comum a maioria dos candidatos.

O pleito foi decidido no segundo turno, com a surpreendente vitória de Kireeff, que literalmente, partiu do 1%, derrotando o então franco favorito, Marcelo Belinati. A vitória do azarão, sem o apoio dos caciques regionais foi destaque nacional, sem paralelo em outras cidades grandes.

O discurso de campanha vencedor pregava a independência para indicações técnicas e políticas nas secretarias e cargos - advinda da não coligação. Um vício da chamada velha política seria eliminado desde o primeiro momento.

Logo na primeira entrevista e colunas da imprensa, havia o questionamento sobre a governabilidade da administração eleita. Haveria caminho possível para um prefeito sem vereadores correligionários? Sem uma aliança partidária? Cairia o discurso por terra no velho toma lá da cá?

Kireeff respondia, talvez até sem tanta confiança, que acreditava em alianças baseadas em princípios e propostas. A narrativa seria testada nos 4 anos de governo.

Hoje, passados 2 anos do fim da administração Kireeff, a estratégia funcionou. Questionamentos e avaliações a parte, o prefeito terminou o mandato positivamente, apoiado por boa parte da população, manteve-se longe de escândalos e viu uma parcela significativa dos eleitores clamar por sua candidatura a reeleição, que não ocorreu por opção pessoal. As dissidências e insucessos da gestão, podem ser justificados por uma série de motivos, entre os quais não está a hostilidade da câmara municipal decorrente da falta de uma grande aliança política.

Um país como o Brasil tem desafios infinitamente maiores do que a prefeitura de Londrina. Texturas ideológicas, uma luta infame pelo poder, a força do chamado deep state são variáveis muito mais imprevisíveis do que sindicatos locais e servidores de administração direta, mas em algum grau, existe sempre convergência de objetivos e negociações pontuais, sobre pautas e proposições, que são uma via a governabilidade.

Em uma nova situação na política nacional, com fragmentação dos partidos e das agendas programáticas o exemplo de Londrina pode mostrar que há alternativa ao métodos tradicionais de negociação política. As bancadas partidárias majoritárias ruíram. No médio prazo, parece não haver a espaço para o espectro de partidos que até então davam as cartas no congresso brasileiro. Um novo caminho se imporá e determinará se a cultura política brasileira vai avançar ou retroceder em outra frustração.

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